A Trajetória de Escudero: Do Presente de Natal Vascaíno à Idolatria no Vitória

A Chegada de Escudero ao Vasco: Um Presente Natalino Efêmero

Em um contraste marcante com a discrição do Natal de 2025, o Vasco, em 2016, surpreendeu seus torcedores ao anunciar o meia argentino Damian Escudero, então com 29 anos, como o primeiro reforço para a temporada de 2017. A chegada do atleta foi tão rápida que ele mesmo descreve: "Em 24 de dezembro me ligaram do Vasco para ir para lá. No dia 25, arrumei as malas. Foi muito rápido".

Após se aposentar há três anos, Escudero agora atua como agente de futebol, desfrutando de uma vida mais tranquila. Essa realidade contrasta fortemente com sua passagem pelo Vasco , onde sua atuação em campo não atingiu o brilho esperado. Além disso, uma lesão no pé o afastou dos gramados na reta final de sua estadia no Rio de Janeiro. Ao todo, o meia participou de 23 partidas e marcou apenas um gol pelo clube.

Controvérsias e Desfecho na Justiça

A relação entre Escudero e o Vasco não se limitou aos campos, culminando em uma disputa judicial. Em janeiro de 2018, o jogador conseguiu a rescisão de seu contrato devido ao atraso no pagamento de seus direitos de imagem e FGTS. No ano seguinte, o Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro determinou que o clube pagasse as verbas trabalhistas devidas ao meia, estabelecendo R$ 2,2 milhões como base para o cálculo do recurso.

Sobre sua saída conturbada do clube, Escudero declarou: "Trabalhava e não recebia. Preferi sair e voltar para a Argentina e passar tempo com a família". A experiência no Vasco , portanto, marcou um capítulo de desafios em sua trajetória no futebol brasileiro.

A Idolatria Conquistada no Vitória

Em nítido contraste com sua passagem pelo Vasco , Escudero construiu uma história de sucesso e idolatria no Vitória. No clube baiano, ele alcançou um reconhecimento que não experimentou em nenhum outro lugar no Brasil. Sua chegada em 2013 marcou o início de uma era memorável para o Leão, com o time protagonizando goleadas históricas em clássicos Ba-Vi, incluindo um 5 a 1 na inauguração da Arena Fonte Nova e um 7 a 3 no jogo de ida da decisão estadual.

Escudero recorda: "Impressionante. A gente fazia gol e queria fazer mais um, mais um, essa era a nossa maneira de respeitar o rival, jogando para frente, não brincando ou falando nada demais. Esses valores para mim foram ensinados desde pequeno, mostrar dentro do campo". Ele também integrou a equipe que alcançou a melhor campanha do Vitória no Campeonato Brasileiro de pontos corridos em 2013, terminando em quinto lugar com 59 pontos.

Desafios e Superação no Vitória

A temporada de 2014 trouxe desafios tanto para Escudero quanto para o Vitória. O meia sofreu uma grave lesão no joelho e passou por um longo período de recuperação. Seu retorno aos gramados coincidiu com o rebaixamento do clube para a Série B. "Eu vinha de um 2013 muito bom, mas acabei me machucando em fevereiro, em Pituaçu. Esse foi um ano de muito aprendizado para mim. De me comprometer ao máximo para voltar quanto antes. Foi um ano de muito sacrifício. Acordava às 7h, 8h, já estava no clube e só voltava para casa às 20h", relembrou o ex-jogador.

Contudo, 2015 marcou sua volta por cima, sendo uma peça fundamental no acesso do Vitória à Série A, marcando 13 gols e se tornando o artilheiro do time. Ele também foi o autor do gol de falta que abriu caminho para a vitória sobre o Luverdense, confirmando o retorno do clube à elite do futebol brasileiro. "Não sei se foi o melhor temporada da carreira porque tive um ano muito bom no Vélez, outro no Grêmio, mas 2015 foi maravilhoso", analisa Escudero .

Legado e Reconhecimento no Vitória

Ao todo, Escudero disputou 100 jogos pelo Vitória, marcando 19 gols e dando 11 assistências. Entre seus principais feitos, destacam-se o Campeonato Baiano de 2013, o acesso de 2015 e a participação na melhor campanha da equipe na Série A por pontos corridos. "Sou muito grato de jogar no Vitória e fazer a campanha que fizemos em 2013. Se fosse hoje, a gente iria para a Libertadores. Mas naquela época só ingressavam quatro, e a gente ficou na quinta colocação. Idolatria a gente ganha com trabalho, dedicação. Isso para mim foi o mais importante. A torcida reconhece, e quem está dentro, o jogador, é o máximo. É uma idolatria pelo tempo que fiz, três anos, e por tudo que foi feito no campo", afirma Escudero . A identificação com a torcida era tamanha que ele relembra: "Não conseguia jantar com a família, demorava muito para sair, todo mundo me conhecia, tirava fotos".

Retorno Frustrado e a Relação com o Atlético-MG

Apesar da forte ligação com o Vitória, Escudero também enfrentou turbulências no clube. Em 2019, chegou a treinar no Barradão, mas não houve acordo com a diretoria. Ele expressou sua decepção com a situação, declarando: "Me falaram que eu tinha que fazer um treino para demonstrar que estava apto para jogar ou não. Nesse momento mostrei que estava ótimo para jogar. Depois acabou que as pessoas que me levaram para lá fizeram coisas que não deveriam ter feito, mas não deu certo. Senti que não fui valorizado. Não estava pedindo salário alto, só queria voltar para jogar e ajudar o clube".

Antes de sua passagem pelo Vitória, Escudero também teve momentos marcantes no Atlético-MG, onde jogou ao lado de Ronaldinho Gaúcho. Ele recorda com surpresa: "Chego em um treino, sempre tinha gente, mas chego e vejo repórter, helicóptero, muita coisa. Achei estranho. Mas não assistia TV, matéria, nada. Quando chego no vestiário pergunto o que está acontecendo, e falaram que estava vindo o Ronaldinho. Impressionante que eu não sabia nada". Ele descreve a experiência de compartilhar o vestiário com Ronaldinho como "uma das coisas gratificantes no futebol, impressionante".

Aposentadoria e Nova Carreira

Após sua passagem pelo Vasco , Escudero ainda jogou pelo Cuiabá em 2019, mas a paixão pela rotina de treinos já não era a mesma. Ele também enfrentava problemas físicos e a distância da família. Durante a pandemia de Covid-19, Escudero anunciou sua aposentadoria e iniciou uma nova carreira como agente de futebol. "O que me desgastou no futebol foi o dia a dia. Prefiro ficar mais tempo com a família. Tocar meu negócio. Está tudo muito tranquilo, e vou procurar fazer as coisas darem certo", explica o agora empresário.

Atualmente, Escudero trabalha intermediando negociações de jogadores do futebol sul-americano. "Procuramos os clubes, e a partir daí, da necessidade, buscamos variantes, opções para levar aos clubes", detalha. Enquanto isso, seu pai, Osvaldo, segue no mundo do futebol como técnico na quarta divisão argentina, tendo sido um jogador campeão duas vezes com Maradona.

Legado Familiar e Reflexões Finais

O orgulho de Escudero por sua família se estende aos seus filhos, que também compartilham a paixão pelo futebol. O filho mais velho, inclusive, já demonstra interesse em seguir os passos do pai. "Eu tenho três filhos, o maior me pede para acompanhar mais. Estou mais em cima dele que dos outros dois. Faço treinamento, levo ao médico esportivo para acompanhar o crescimento dele. Mas, graças a Deus, ele não tem essa necessidade de querer jogar para querer ganhar dinheiro, ser ídolo. Acompanho sempre. Tem 14 anos e é centroavante, destro. Vai ser muito mais alto que eu", garante Escudero .

Ex-jogador, empresário, pai de família e filho orgulhoso, Escudero parece satisfeito com o rumo que sua vida tomou após a aposentadoria. A única coisa que ele mudaria em sua trajetória seria o tempo que passou na Europa, que considera ter sido curto. No entanto, essa reflexão não o abala. "Hoje, pensando, é difícil voltar da Europa para a Argentina. Não me arrependo, mas hoje ficaria mais pela Europa".

Ficha de Damián Escudero como jogador

Nome: Damián Ariel Escudero ;

Nascimento: 20 de abril de 1987, em Rosário (atualmente tem 37 anos);

Posição: meia;

Clubes da carreira: Vélez Sarsfield, Valladolid, Villarreal, Boca Juniors, Grêmio, Atlético-MG, Vitória, Vasco , Puebla e Cuiabá;

Títulos: Liga Argentina Clausura (2004/2005), Campeonato Baiano 2013, Campeonato Mineiro 2012 e Copa Verde 2019;

Jogos: 383;

Gols: 52;

Assistências: 15.